O Lado Bom da Depressão

A encantadora Marie-Louise von Franz, a grande pupila de Carl Jung, falou sobre a obra de Jung e a psicologia dos tempos. Diz ela: “A depressão é uma bênção divina, é a maior bênção”. Von Franz explica que sem uma depressão ou neurose, o homem não olha para dentro: “Enquanto as coisas vão bem fugimos para fora de nós mesmos” e dentro de nós é que está a verdadeira riqueza, a luz que pode iluminar nossas vidas.

Evidentemente, em pessoas que sofrem de depressão crônica, essa ideia dificilmente será bem-vinda. A depressão parece uma maldição e, certamente, pode se transformar em uma. A psicologia junguiana, no entanto, acredita que a psique é a realidade primária e, portanto, a depressão é uma maneira de se comunicar com as partes mais profundas da psique, como se fosse em contato com o divino ou luminoso subjacente à experiência consciente diária.

Devemos mencionar que, de acordo com a psicologia junguiana (e consistentemente, por exemplo, o budismo), as doenças físicas têm origens psíquicas. Assim, por exemplo, uma doença ou uma dificuldade são, paradoxalmente, as tentativas da alma de curar, forçar o indivíduo a mudar ou, pelo menos, observar certas coisas que estão em seu inconsciente e precisam se manifestar como já abordamos em “A Loucura como Consequência da Mecanização da Vida”. Podem até sugerir que as doenças, e não os sintomas, são as manifestações físicas da simbolização da psique, do inconsciente que tem acesso aos arquétipos e a uma infinidade de informações intocáveis.

Jung entendeu literalmente a depressão, mas como algo que surge na psique e se manifesta no alquímico. Depressão literalmente é o que nos traz para baixo, é uma descida. Mitologicamente, a jornada do herói envolve necessariamente uma descida ao submundo. Na alquimia ocidental, a grande obra – cujo fim era a pedra filosofal – só pôde ser iniciada quando a fase “nigredo” foi introduzida, o lado escuro/oculto da alma que deve ser explorada e purificada e que, de fato, é o centro do trabalho. Psicologicamente, a depressão nos permite ver o que está abaixo do nosso ego e do qual nos esquivamos porque não é fácil reconciliar com a nossa personalidade – ou a máscara que usamos para se relacionar com o mundo. Isso é vital, porque as causas de nosso mal existencial certamente não estão na superfície, na luz e no que nos parecem agradáveis, e não podemos encontrar um significado existencial se não conhecermos a profundidade de nossa psique e suas motivações secretas. Provavelmente, uma pessoa que nunca esteve deprimida – ou que não tenha prestado muita atenção à sua depressão – é uma pessoa superficial que é guiada pela consciência de massa e não se conhece bem o suficiente.

Obs.: Nigredo é uma palavra em latim que significa escuro. Foi adotada pelos alquimistas para designar o primeiro estado da alquimia: a morte espiritual, significando decomposição ou putrefação. É sucedido pelos estados albedo (purificação), citrinitas (despertar) e rubedo (iluminação).

Assista ao vídeo, da entrevista incrível feita a Marie-Louise von Franz: – ative as legendas em Configurações – 

Em uma carta famosa para um paciente, Jung escreveu:

“Quando a escuridão se tornar mais densa, penetrará fundo em seu núcleo, e não descansará até que uma luz apareça em dor, já que no exessu affectus (em excesso de paixão) a natureza se reverte.”

Em outras palavras, a depressão pode ser a fonte de uma espécie de felicidade sem fim o início do caminho para uma verdadeira autos satisfação, e também, muitas vezes aí descobrimos quem está verdadeiramente ao nosso lado em nossa relação de interdependência; os verdadeiros tesouros, o ouro que por sua vez estão nas profundezas da terra. Ou, como escreveu Camus, “no meio do inverno eu encontrei um verão invencível em mim”.

rinponche

Essa visão da depressão pode ser comparada com as ideias do professor tibetano Chögyam Trungpa:

“A depressão não existe apenas no vácuo, ela tem todos os tipos de coisas inteligentes que estão acontecendo nela. Basicamente, a depressão é extraordinariamente interessante e é um estado de ser altamente inteligente. É por isso que você está deprimido. A depressão é um estado mental de insatisfação pelo qual você sente que não tem saída. Por isso, trabalha com a insatisfação da depressão. O que quer que esteja lá é extraordinariamente poderoso. Tem todos os tipos de respostas, mas as respostas estão ocultas. Então, na verdade, acho que a energia da depressão é uma das mais poderosas. É uma energia extremamente desperta, embora você provavelmente a sinta sonolenta”.

wallace

~*~

Que essa reflexão traga luz ao nosso interior.

Artigo de Luccas Fortuna para O Grande Jardim.

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