O Despertar do Kundalini na Perspectiva Africana

Muitos de nós já ouvimos falar na energia do Kundalini e como despertá-lo, porém é muito raro vermos um estudo que fala da visão Africana dessa energia e hoje conheceremos a perspectiva dessa cultura tão rica.

A energia da Kundalini habita naturalmente dentro de todos nós. Nós viemos a este mundo com uma missão, mas muito poucos de nós são criados em ambientes ou contextos culturais que estão plenamente conscientes disso e, assim, criam crianças para se adaptarem ao seu ambiente, ao invés de ver quem essa criança é, ao que veio ao mundo para ser e ajudar nesse crescimento com o propósito da Alma. Porém, essa criança cresce e de repente, de forma espontânea uma série divina de eventos começa a descascar as camadas de nosso condicionamento para nos abrirmos para quem realmente somos e viemos a este mundo para ser.

Os sinais e sintomas de tais despertares são muitos e variam ligeiramente de indivíduo para indivíduo e de cultura para cultura. Os casos mais extremos aparecem em nosso mundo moderno como uma forma de desequilíbrio na saúde mental, em que as pessoas ouvem vozes ou vêem coisas que não são comuns para os outros ou se sentem altamente separadas e distantes deste mundo. Eles podem ser atormentados por entidades negativas ou ter estados extremos de consciência e êxtase que os fazem não serem totalmente funcionais neste plano físico. Os sintomas mais leves podem ser descritos como sentimentos de unicidade ou aberturas repentinas em certos chakras (centros de energia no corpo) que causam ansiedade, depressão, dores de cabeça e outros sintomas semelhantes aos da desintoxicação.

Muitas vezes, tais sensações simplesmente dificultam o desempenho de uma ou mais funções sociais, como a habilidade em manter um emprego ou se relacionar com as pessoas e acabamos por ficar repetidamente cometendo os mesmos erros e lidando com os os mesmos problemas sem avançar para frente. Isso pode soar como questões que qualquer pessoa pode experimentar na vida, mas quando a experiência se torna constante é porque há uma lição muito forte a ser aprendida e uma conexão entre o mundo físico e o mundo espiritual que deve ser feita.

Do ponto de vista do Ngoma, tradição espiritual africana, explicamos que estamos sendo “incomodados pelos ancestrais”. A espiritualidade africana entende que toda nossa experiência está conectada ao tudo que está além desta vida, que a teia na qual estamos conectados através do sangue, linhagem e espírito impacta nossa vida diária. Somos compostos de todos os elementos da Terra e carregamos informações que ficam ativas ou inativas em nosso DNA. Nosso karma, a soma de nossas ações nesta vida, de vidas passadas e na vida de nossos ancestrais, afeta nosso destino. Assim, os ancestrais nos incomodam para chamar nossa atenção de algo urgente ou à algo que precisa ser nutrido, tratado, limpo ou curado, abraçado ou alcançado. Nós somos porque eles são. Nós temos as tecnologias desta vida por causa de suas invenções. Nós nos beneficiamos de seu trabalho e sabedoria. Nós sofremos com seus erros. Estamos doentes das coisas que perturbaram a vida deles. Nossos pais nos ensinaram o que seus pais lhes ensinaram, e assim por diante. Os mortos ainda estão vivendo no reino espiritual e através das histórias que carregamos através de maldições geracionais e dons geracionais.

A perspectiva espiritual africana é que os ancestrais são conhecidos por incomodar nossos sonhos, nos deixar doentes, tirar coisas e pessoas de nossa vida, induzir fortes sensações ao longo da espinha até que a mensagem seja recebida e cumprida. Meu despertar foi uma mensagem para me tornar um curandeiro tradicional ou isangoma. A sagrada sabedoria em minha linhagem familiar precisava ser despertada para que eu, assim como os outros, pudessemos curar ou entrar em equilíbrio com suas respectivas mensagens ancestrais. Sim, os ancestrais ainda se importam e cuidam de seus filhos até mesmo dos reinos etéreos.

Houve momentos em minha vida em que esse despertar parecia uma forma de punição. Você vai se sentir assim muitas vezes, no entanto, verdadeiramente você está finalmente atravessando a ponte para quem você realmente é, o que é verdadeiramente real, e o grande mistério que você questiona todos os dias. Quando a energia da Kundalini se eleva livremente dentro de nós, nós telepaticamente sabemos as respostas à nossa vida, podemos perceber outros reinos, ouvir os entes queridos do passado, receber idéias/projetos criativos, fazer amor de uma forma que cure e una almas, ver o mundo como ele realmente é, sem ferramentas científicas sofisticadas e experimentos além das escalas ou medidas de tempo. A lista é verdadeiramente interminável, mas, acima de tudo, a conexão é a raiz da experiência. Os problemas mais humanos não estão ligados a algum tipo de sentimento de desconexão? Algum eco de não saber quem realmente somos? Como se uma parte do corpo que não está mais se comunicando com outra parte?

Kundalini-Awakening-from-an-African-Perspective-2-350x246É quase como uma cirurgia cósmica, onde somos abertos espiritualmente e todos os órgãos, sangue, células são, na verdade, meridianos, chakras e linhas de energia que podem começar a ser reconfigurados em felicidade, conexão e paz. Os espiritualistas Zulus identificam essa energia masculina e feminina como Nguni – uma energia masculina ardente – e Ndawe – uma essência feminina aquosa. O aumento dessa força produz estados de transe leves ou intensos, onde os reinos espirituais são percebidos. As características, sons e energia que surgem podem ser reconhecidos como um espírito ancestral ou um deus/deusa da região. A energia pode se elevar e vibrar profundamente no Chakra Sacral e nós sentimos uma intensa felicidade orgástica, ou no Chakra do Terceiro olho surgem visões, e no Chakra do Plexo Solar nos sentimos tão fortes e fortalecidos como um leão.

A mudança ou o despertar é um chamado para curar algo dentro de você. Na maioria das tradições espirituais indígenas ou antigas, a mudança abre portais para você navegar. Há um aspecto da jornada que você deve navegar sozinho, mas com professores. Seus professores podem aparecer como guias espirituais e ancestrais elevados ou divindades, mas a maioria terá guias espirituais e mestres humanos (Babas, Taitas, Iyas, Gobelas, Gurus, Mestres, etc.).

Eu ouvi as histórias daqueles que foram iniciados nos ensinamentos do mistério cósmico somente através de guias espirituais… Confie quando eu digo que esta é a jornada mais difícil e mais assustadora para a maioria. Aqueles que andaram por esse caminho não tinham outra escolha, os espíritos simplesmente “os pegaram”. Eles desapareceram por meses ou anos, tanto que pensavam que estavam mortos, mas reapareceram em suas aldeias novamente através de intensos sacrifícios e ritos de passagens. Se você já acha a vida difícil, você não quer lidar com a vida em múltiplas dimensões sozinho.

Ninguém escolhe despertar, em certo sentido, mesmo que você o busque, esse desejo inicial que surgiu dentro de você foi uma ressonância com algo maior que você. A verdade é que muitos são chamados, mas poucos respondem.

Deixando os despertares da kundalini de lado por um instante, muitas de nossas experiências terrenas ainda nos ligam aos nosso ancestrais. Quando nossos ancestrais passaram por questões que não foram resolvidas, erros, traumas, opressões e injustiças, muitas vezes procuram os filhos para ajudá-los a liberar esse karma, quase como se fosse uma segunda chance. Os ensinamentos orientais referem-se a isso em termos de vidas passadas, mas nossas vidas passadas e as vidas de nossos ancestrais no reino espiritual são uma só e estão intrinsecamente ligadas. Assim, os sintomas e desequilíbrios requerem alguma forma de cerimônia para dar energia a essa história ancestral e ajudá-los a elevar-se a uma consciência e estado de ser mais elevados, criando assim um equilíbrio para as gerações passadas e futuras.

O bem-estar a partir de uma perspectiva espiritual mais indígena é tão expansivo e holístico. Fala ao todo, à aldeia, à família, à nossa conexão com todas as coisas, a terra e suas histórias. Estamos literalmente caminhando sobre a terra que abriga os ossos e as histórias de muitos e enquanto nossos pés estiverem plantados nesta terra ou enquanto nossas cinzas retornarem aos elementos … nós carregamos suas histórias conosco. Quando despertamos, acordamos para essa verdade.

Quer falemos em termos de chakras, antepassados ou experiências humanas, é com a energia que em tudo vive que alimenta e guia a alma eterna.

~*~

Esse belo artigo foi escrito por Gogo Thule Ngane, uma curandeira tradicional de Sangoma, sacerdotisa e mulher de medicina. Ela é guiada pelos Amadlozi, Ancestrais Elevados de sua linhagem. Seu trabalho inclui adivinhação, cura tradicional e também conduz workshops, cerimônias e retiros sobre a antiga cura e espiritualidade africana. Ela é dedicada a despertar sabedoria ancestral na terra. – Texto para o Wake Up World.

Traduzido por YanRam para O Grande Jardim.

A força ancestral está em todos nós, que possamos sempre caminhar com amor, respeito, humildade e verdade nesse grande e amado Jardim! Gratidão Gaya pela oportunidade e amor! ❤

Por favor, lembre-se de compartilhar trechos ou textos completos do blog sempre com os devidos créditos!

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